segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

ARTIGO: O Evangelho e a liberdade da Graça geram frieza espiritual?




   
     A mensagem do Evangelho e da liberdade da Graça sempre gerou contradições diante da mentalidade da religião. Sim, para muitos, viver a liberdade do evangelho da Graça implica em apatia espiritual ou até mesmo uma vida "sem compromisso com Deus", pois não havendo leis ou regras religiosas, não preciso me manter leal e obediente, correndo assim o risco de se cair na indiferença para com o sagrado e na  conseqüente libertinagem. Mas será isso mesmo?

     Essa contradição gerada pelo Evangelho da Graça sempre existiu. O Novo testamento revela que nos ensinos de Jesus já existiam tais indagações como: "Por que o vosso mestre come com publicanos e pecadores? Por que ele não lava as mãos ao comer? Por que ele cura no sábado? Por que jejuamos nós e os fariseus e os teus discípulos não jejuam?"(Mt 9.11,14). 

    Em seus dias, Jesus foi muito mal compreendido justamente pelo fato de não ensinar uma nova religião baseada em regras e ordenanças, pois o evangelho não é uma religião e sim "Espírito e Vida" que geram em nós uma nova consciência tendo o Amor como mandamento básico para a existência.

    Por sua vez, o apóstolo Paulo  também sofreu com as contradições da mensagem do evangelho da Graça, pois para muitos de sua época, Paulo era um pregador da libertinagem e do antinomismo (doutrina que ensina ser contra toda forma de lei). Em suas cartas no Novo testamento, há inúmeros embates de Paulo com muitos religiosos que não entendiam a genuína mensagem da liberdade da Graça e do Evangelho por ele pregado. Veja: 

"Por que não dizer como alguns caluniosamente afirmam que dizemos: Façamos o mal, para que nos venha o bem [...] A lei foi introduzida para que a transgressão fosse apontada. Mas onde aumentou o pecado, transbordou a graça. Que diremos então? Continuaremos pecando para que a graça aumente? De maneira nenhuma!"(Rm 5.20-6.2).
    
     Atualmente também é comum ver pessoas com essa mesma mentalidade religiosa, cristãos que pensam que viver assim, livre e pacificado, implica em indiferença espiritual. Por isso, muitos pensam que "estudar demais a Bíblia te deixa ou doido, ou muito crítico", outros dizem que esse tal evangelho da Graça é uma "lavagem cerebral" e "desvia as pessoas"... Em certo sentido estão corretos mesmo, pois é uma constante "Metanóia" (mudança de mente) e nos faz desviar daquilo que não é o genuíno Evangelho...

    Por outro lado, é triste ver muitos que se dizem estar no evangelho da Graça, mas que, infelizmente, parece que nada mudou dentro deles, pelo contrário, acabam se enveredando pelo caminho de uma fé meramente psicológica, apática, criticista, sem piedade e sem devoção. Mas então, o que o evangelho da Graça muda em nós?

   O Evangelho da Graça nos melhora e nos salva de nós mesmos dia a dia. A consciência da Graça muda o nosso foco no relacionamento com Deus, pois o Evangelho nos ensina que a verdadeira espiritualidade não se baseia  em votos religiosos ou em tentativas de agradar a Deus por conta própria, antes somos estimulados a tão somente confiar na Graça e nas Palavras de Jesus, pois essas sim, em comunhão com Ele, tem o poder de nos santificar e nos transformar. Ficamos cada vez menos preocupados com leis religiosas e cada vez mais interessados no amor, no ensino e nas Palavras dEle.

     A mensagem da Graça e do Evangelho muda nossa forma de enxergar a vida, pois faz com que nossa espiritualidade fique menos templária e mais humana. O evangelho nos ensina que a genuína forma de adorar e servir a Deus não consiste em exclusivamente levantar as mãos em um templo ou em uma mera conferência de louvor e adoração, antes, servimos a Deus no rosto e na figura do nosso próximo, pois, como disse jesus: "quem receber a estes pequeninos, a mim me recebe"(Lc 9.48).

    O Evangelho da Graça muda nossa perspectiva de encontro com Deus, pois nos mostra que o eterno não é refém de geografias, nem de dias e nem de horários pré-estabelecidos pela religião. O Cristo nos ensina que a geografia e o altar de Deus é o coração e que o dia especial de Deus é o dia chamado hoje (Hb 3.13), cuja hora é justamente o agora com Ele.

   O Evangelho da Graça muda nossa forma de interpretar a realidade, pois nos ensina a "julgar todas as coisas para ver se procedem de Deus" conforme o espirito e os ensinamentos de Jesus. Isso não é uma mera prática de crítica cética, mas é o exercício constante de "acautelarmos por nós mesmos" sempre tomando cuidado com o "fermento dos religiosos fariseus"  e lembrando que muitos falsos apóstolos surgiriam em seu nome. Tal exercício nos faz cada vez mais dependente do aprendizado e do ensino do Novo Testamento. 
      
    O Evangelho muda, sobretudo, a nossa forma de enxergar e tratar o próximo e isso sem juízo peremptório, sem preconceitos (seja de que natureza for, racial, étnico, sexual) e intolerâncias. A consciência da Graça nos ensina que "Todos pecaram" e, por isso, ninguém é superior que ninguém, pois todos dependemos da mesma graça dEle. Essa mesma consciência da Graça nos ensina que quanto mais perto dele estivermos, mais conscientes de nosso pecado ficaremos. Portanto, livres das leis religiosas, mas dependentes  e constrangidos por seu amor!

    Lembremos sempre: O apóstolo Paulo quando era religioso e fariseu, se vangloriava no cumprimento da lei julgando-se irrepreensível e foi esse mesmo zelo pela lei que o levou a praticar intolerâncias e até perseguir pessoas de bem. Por outro lado, o mesmo apóstolo ao se encontrar com a Graça redentora, considerou toda sua vangloria religiosa como refugo e assim afirmava:

       "Esta afirmação é fiel e digna de toda aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, DOS QUAIS EU SOU O PIOR. (I Tm 1.15)".

    Assim é o Evangelho da Graça e sua liberdade chocante, pois "se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, A GRAÇA NÃO É GRAÇA". (Rm 11.6)           
     

   Sim, a Graça que nos justifica é a mesma que nos santifica e transforma.

   Para que ninguém se glorie.    

   Pense nisso também!
     

   Samuel Nepomuceno

   23/01/2017.

    

2 comentários:

  1. Olá Samuel.
    Parabéns pelo seu artigo. Ele foi incisivo e preciso, sobretudo no alcance às pessoas que como eu trafegam no mundo religioso, ansiosos por um encontro definitivo com Deus, vagueando às vezes, sem encontrar um ponto central de convergência.
    Simpatizo-me com a configuração do Caminho da Graça, mas receio pela amplitude da abertura verificada nos adeptos e até em líderes desta instituição.
    Ora, na minha modesta concepção evangélica, ser um crente é, acima de tudo, se submeter ao ensino básico de Jesus verificado no texto João 3:3/4, isto é, nascer de novo, bem como aos indispensáveis limites impostos pelo Espírito Santo e até, sejamos realistas, aos limites impostos por determinadas regras comportamentais.
    A imagem mais significativa que tenho para um renascido através do Sangue de Jesus é a do fenômeno químico (?) da Solidificação: a água que se transforma em gelo. Sim, é a mesma água, mas num outro estágio. Essa é a ideia, talvez bem simplista, mas em que acredito. As pessoas devem ver em nós o Senhor Jesus, uma vez que nos apresentamos como cristãos. E, perdoe-me, honestamente não vejo isto em alguns irmãos do Caminho. Então, embora me depare com algumas situações, distorções e interferências meramente de cunho humano, prefiro ficar onde sempre estive.
    Um abraço

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  2. Obrigado pela sua observação mano jim. Graças a Deus o Evangelho é Espírito e autossuficiente. A Igreja genuína (comunidade dos alcançados pela Graça do Cordeiro) é invisível e, graças a Deus, não está presa em nossas concepções minimalistas de denominações. Fique sempre a vontade para acessar e usufruir de nosso blog.
    Grande Abraço fraterno!
    Samuel.

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